Um clássico de 1954, transformado em um símbolo de inovação e regeneração. Assim nasce o Muriqui Land, o Land Rover Series I totalmente eletrificado pelo Ibiti, que faz sua estreia pública no 24º Encontro do Automóvel Antigo de Juiz de Fora (28 a 31 de agosto, Campus da UFJF).
O nome traz um jogo de palavras com Land, presente na marca e que em inglês significa ‘terra’. Assim, o carro foi batizado de Terra dos Muriquis, em homenagem ao maior primata das Américas e símbolo de resistência e regeneração no Ibiti.
“Buscamos inovação e disrupção, mas sempre com respeito às origens. O Muriqui Land é um exemplo de como queremos nos relacionar com a natureza, de forma sustentável e regenerativa”, destaca Hugo Cambraia, CEO do Ibiti Projeto.
Valor no que permanece
O modelo traz uma reflexão sobre como até mesmo um clássico de mais de 70 anos pode renascer com energia limpa e, repaginado, estar pronto para durar mais cem anos. Precursor do moderno Defender, o Land Rover Series I de 1954 é um marco na história do fabricante britânico.
Inspirado no Jeep americano e produzido em alumínio devido à escassez de aço no pós-guerra, o veículo destacou-se pela robustez e versatilidade. Em 1954, chegaram as versões Station Wagon de sete e dez lugares, consolidando sua fama de resistente e reforçando o status de ícone mundial.
No Ibiti, essa durabilidade é celebrada como um princípio fundamental. “Ao reciclar esse veículo, fortalecemos a ideia de que o antigo pode ganhar nova vida, sem descartar o que é valioso”, explica Hugo.
Esse é o espírito: valorizar os bens duráveis do passado e resistir à lógica da obsolescência programada e ao consumismo desenfreado que transforma tudo em descartável. O clássico Land Rover divide espaço com outras relíquias que contam histórias no Ibiti: um piano Steinway de 1874, em jacarandá, atração do Gaia Café; e um avião da década de 1940.
Renato Machado, um dos idealizadores do Ibiti, ressalta que essa filosofia se conecta a uma inspiração japonesa: o termo Mottainai expressa respeito profundo pelo que se tira da Terra e condena o desperdício. “No Japão, por exemplo, há quem restaure um prato quebrado com ouro, para mostrar que, recuperado, ele pode valer mais que um inteiro. O piano, o avião, o Land Rover… são ícones que provam que a humanidade já soube produzir coisas que duravam. Nosso papel é honrar essa tradição e mostrar que podemos fazer melhor.”
O desafio
”Foi um grande desafio eletrificar um Land Rover tão antigo, sem perder sua identidade”, destaca Hugo. O projeto foi coordenado com esmero por seu avô, Maercio Alcântara, 81 anos, com mais de seis décadas de experiência em máquinas pesadas e mecânica. Ele acompanhou cada detalhe da restauração, a convite de Renato Machado, que adquiriu o veículo e confiou a seu parceiro de longa data a missão de devolver vida a essa relíquia.
“Eu desmontei tudo. Tirei motor, câmbio, caixa de transferência… e montei de novo, agora com o ‘coração’ elétrico. Mantive a originalidade onde dava, mas trouxe a modernidade no que era preciso”, conta Maercio, com orgulho do resultado final após cerca de 120 dias de trabalho ao lado da equipe da oficina Hidraumática, de Juiz de Fora (MG).
Antes



Depois





Um clássico que respira futuro
O Muriqui Land preserva a essência de um Land Rover dos anos 50 – robusto, versátil, carismático -, mas com alma regenerativa. A motorização original a combustão deu lugar a um conjunto elétrico importado, silencioso e de emissão zero.
- Motor elétrico de 7,5 cv, acoplado ao diferencial traseiro
- Bateria de lítio 48V, posicionada no antigo espaço do motor, com carregador próprio conectado diretamente à tomada
- Autonomia estimada em até 18 horas de funcionamento
- Velocidade máxima: 60 km/h
- Capacidade para 9 passageiros (3 na frente e 6 atrás).
“A gente eliminou o túnel central da carroceria, que antes abrigava a caixa de marchas, e o piso ficou plano. Isso deu espaço para mais um banco na frente. Hoje o carro leva nove pessoas no total”, explica Maercio.
História em cada detalhe
Nada escapou ao cuidado artesanal de Maercio, que chegou a participar de eventos de Land Rover em busca de referências e redesenhou até uma logomarca especial do Land Rover para o volante, detalhe que revela o nível de personalização.
- Chassi original recuperado após jateamento e modelagem das partes comprometidas pela ferrugem
- Suspensão mantida original, revisada com molas e amortecedores novos
- Pintura em verde Ibiti, criada a partir da tonalidade histórica do veículo, adaptada para harmonizar com a identidade visual do projeto
- Interior em courvin marrom perfurado, escolhido após pesquisas, substituindo o revestimento preto original por um material mais confortável e ventilado
- Painel elétrico moderno, mas preservando a estética vintage, com chave de ignição, faróis, buzina, limpadores e setas alimentados por uma segunda bateria de 12V
- Pneus lameiros novos, prontos para estradas de terra, mas com tração apenas traseira (4×2)
Technical sheet
Muriqui Land (Land Rover Series I, 1954)
- Origem: Inglaterra
- Motorização: elétrica, 7,5 cv
- Bateria: Lítio 48V, com carregador próprio (tomada comum)
- Autonomia: ~18h de uso contínuo
- Tração: 4×2
- Velocidade máxima: 60 km/h
- Capacidade: 9 passageiros (3 dianteiros + 6 traseiros)
- Peso da bateria: ~60 kg
- Suspensão: original revisada (feixes de mola + amortecedores novos)
- Rodagem: pneus lameiros para off-road leve
- Pintura: verde personalizado (inspirado no Ibiti)
- Interior: courvin marrom perfurado, ventilado
- Tempo de restauração: 120 dias (4 meses)
- Local: Hidraumática, Juiz de Fora (MG)
- Coordenação técnica: Maercio Alcântara