“Eu nunca imaginei, nem nos meus sonhos mais loucos, que elas viriam para um lugar como esse. Fico muito feliz por estar aqui com elas”, emociona-se a artista Karen Cusolito na mais recente visita a sua obra, em 2022, na Pedra do Tatu, onde “mora” sua Big Family, conhecida simplesmente como Estátuas. Esse registro pode ser acompanhado em “My Big Family – Revisited”, mini doc de 18 minutos disponível no canal do Ibiti Projeto no YouTube.
Atravessando oceanos
Entre uma fala e outra de Karen, o filme, dirigido por Mauro Pianta, também mostra como as Estátuas saíram da Califórnia (EUA) até Ibitipoca (MG) em 2014. As imagens foram feitas por Felipe Scaldini, diretor de outro filme, “Migration”, que documenta essa trajetória em detalhes, também disponível no canal do Ibiti Projeto no YouTube.
O transporte do Pacífico para o Atlântico não foi tarefa das mais simples, como lembra Renato Machado. Fundador do Ibiti, ele tomou conhecimento da obra quando passava por um galpão. “Eu tinha sugerido de cortar as esculturas, para depois fundi-las aqui, com uma equipe especializada e de confiança. Mas aí, a Karen me fala: ‘Renato, você não vai cortar meus filhos né?’ E ela mesma ajudou a fazer umas ’camas’ para deitar as estátuas, que vieram inteiras no navio. Para subir com elas até o alto da montanha, tivemos que abrir uma estrada para o trator puxar com o guindaste, e depois fechamos e plantamos por cima.”

Um destino
Karen fez questão de conhecer o lugar para onde a “Big Family” se mudaria. “Eu queria que fosse um destino, e não um lugar óbvio como ao lado da pousada do Engenho. Então sugeri três lugares, torcendo por esse, que foi o que ela também gostou. Depois, ela fez três layouts e pediu que eu escolhesse um, e de novo concordamos”, conta Renato.
Para ele, a obra ganhou novo significado ao vir para Minas. “É uma arte muito alinhada com nosso projeto, porque é reciclagem, é lixo que se transformou em algo melhor, uma ‘regeneração’. E certamente arte feita com aço que saiu de Minas, teve sua utilidade pelo planeta e voltou pra cá, porque nosso estado é um grande fornecedor de minério para o mundo.”
Sentimento traduzido
Karen Cusolito levou cerca de três anos para finalizar a obra e a apresentou em 2007 no Burning Man Festival, nos Estados Unidos. Havia no centro dela uma torre de perfuração de petróleo, representando o deus dos dias atuais. “O intuito era mostrar nossa ambição por petróleo e como isso tem impacto sobre a economia e o meio ambiente de quase todas as culturas ao redor do mundo.”
Karen fez instalações artísticas em Boston até se mudar, em 1996, para São Francisco, na Califórnia (CA). Lá, ela administra o American Steel Studios, um enorme galpão no subúrbio de Oakland, onde trabalham mais de 200 artistas e empreendedores criativos. Foi ali que, ao longo de alguns anos, criou o conjunto de esculturas.
Sobre a forte presença do corpo humano em suas esculturas, a artista comenta: “A forma humana é uma arena rica para explorar e expressar emoção, intenção e desafio”. A maior parte de seu trabalho se concentra na humanidade e no meio ambiente e “no delicado equilíbrio entre os dois”.
Conheça o significado de cada escultura
ACHMED
Representa a parcela muçulmana do mundo. Se conecta à Terra, com humildade e devoção

MUMBATU
Esbelto e forte, remete a tradições africanas. Ao semear, sugere a parceria entre o ser humano e a natureza

ECSTASY
Parece estar em movimento e, segundo Karen, é “algo hippie, adoradora do sol, em júbilo com a natureza”

EPIPHANY
Em momento de iluminação, ela representa a clareza, a alegria, a valorização da vida

PASSAGE
Mostra a criatividade e a tradição sendo passadas de uma geração a outra: mãe e criança caminham juntas

HUMBLE GEORGE
O cavaleiro, em postura de aceitação, reflete calma, a fé cristã
