Entre a filosofia e o infinito, um símbolo se destaca no alto do Ibiti. No topo do Chapadinho a 1.200 metros de altitude, uma estrutura branca e silenciosa convida à contemplação. É o Portal do Spinoza, que combina arquitetura, filosofia e espiritualidade em perfeita harmonia com a paisagem.
De longe, a fachada lembra a de uma igreja. De perto, revela uma porta monumental de seis metros de altura, adquirida há mais de 20 anos. O sino repousa no alto, completando a cena que une o sagrado e o terreno.
A visão por trás do Portal
A inspiração nasceu de uma imagem simples. Renato Machado, idealizador do Ibiti Projeto, viu uma fachada de igreja no Nordeste, lembrou das portas antigas e, como estava lendo “O segredo de Spinoza”, veio a ideia da construção. “Você abre o portal e enxerga Deus, porque se você não consegue ver Deus naquela vista maravilhosa, não vai achar Deus em lugar nenhum”, disse concordando com o filósofo.
Aqui a beleza da natureza é a própria experiência do divino.





Harmonia e contemplação
Segundo o engenheiro Hugo Cambraia, o portal segue as proporções da razão áurea, princípio que rege as formas mais harmoniosas encontradas na natureza e nas artes. São 16 metros de comprimento, 11 de altura e apenas 1 de largura, medidas que traduzem equilíbrio e proporção perfeitos.
Feito em alvenaria, o monumento se encaixa no terreno, de onde se descortina um panorama de 360 graus. De lá é possível avistar a vertente leste do Parque Estadual do Ibitipoca, o Areião, o Pico do Peão, os morros Pão de Angu e Cabeça de Formiga, o povoado de Pedro Teixeira, e, à distância, as luzes de Juiz de Fora. Em dias límpidos, o olhar alcança até o Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó.
Deus sive Natura
O nome do Portal homenageia Baruch Spinoza (1632–1677), o filósofo holandês que redefiniu a noção de Deus e inaugurou uma nova forma de espiritualidade. Para Spinoza, Deus e Natureza são uma só e mesma realidade, uma substância infinita que se manifesta em tudo o que existe.
“Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode existir ou ser concebido”,
escreveu em sua obra-prima, Ética.
Diferente das tradições que colocam o divino fora do mundo, Spinoza o via em cada montanha, em cada pedra, em cada pensamento. A liberdade humana, dizia ele, está em compreender as leis da natureza e viver em harmonia com elas.
Por isso, o Portal de Spinoza é mais do que um mirante: é uma travessia simbólica entre o racional e o contemplativo, entre o pensamento e a experiência direta do sagrado.
Um espaço vivo
O espaço pode receber meditações, práticas de yoga, soundhealing, cafés da manhã contemplativos, encontros e cerimônias ao nascer do sol. O local também serve de cenário para eventos personalizados, como celebrações e casamentos, onde a decoração é a própria natureza.